28 de agosto de 2014

Mudança de endereço do Blog

Olá pessoal!

Tive alguns problemas na página do Blog "Lívia... de papo pro ar" e precisei transferir as publicações para outro endereço:

http://sempredepapoproar.blogspot.com
Sempre de papo pro ar (clique e veja como ficou!)

Tudo continua a mesma coisa, a única novidade é que agora você pode comentar as histórias com seu login do facebook!

Obrigada! Encontro você na próxima história.


25 de agosto de 2014

Profissão mãe

"Toca o despertador bem cedinho antes mesmo do sol aparecer e a maratona começa: se arrumar, preparar o café da manhã, acordar as crianças, separar as roupas, alimentar, fazer higiene, arrumar as mochilas e ir rumo à escola. Ufa, cada um na sua escola com a sua respectiva professora por pelo menos 4 horas no dia." 
Era assim a nossa rotina no Brasil porque eu trabalhava!
Tive o privilégio de ficar meio período com meus filhos e assim, dividi com a escola, o dia a dia das crianças. Mas aqui, tudo é bem diferente!
O silêncio da casa nos faz acordar mais tarde e o sol já brilha intensamente na janela do quarto. Não tem despertador e nem aqueles ringtones que compunham a nossa antiga trilha sonora matinal. Sem pressa e tranquilidade, arrumo todas as infinitas três canecas de leite com achocolatado e os pães na chapa com manteiga. O cheiro é tão gostoso que acaba convidando alguns esquilos a espiar pela janela nossa refeição. Assim começa nosso dia!
Pra você pode parecer gostoso, um sonho de viver… mas todos os dias, esse mesmo trabalho exclusivamente materno e doméstico, não tem seus doces encantos. Queria colocar aqui todos os lados que contém essa moeda!
  Algumas mães, numa fase inicial da maternidade, acabam escolhendo abrir mão do trabalho para poder cuidar de seus pequenos filhos. Essa ideia nunca passou pela minha cabeça! Só agora, com essa história de mudança de país, essa ideia não era bem uma escolha, mas sim, uma única condição.
Acho que um dos fatores que nunca me fez pensar nessa possibilidade de ser mãe profissionalmente, é o meu problema genético de ser bitolada com os serviços domésticos! Minha mãe é assim, minha vó é assim e, certamente, minha bisavó e tataravó também eram. Somos escravas da casa! Somos enlouquecidas por deixar tudo arrumado e limpo. Criamos planos de limpeza, estratégias para organização, rotina, horários… uma doideira sem fim!
E uma mãe com três crianças pequenas não tem uma vida muito saudável querendo sua casa limpa e organizada, concorda?


Mas as promessas americanas eram muito promissoras: cozinha com lavadora de louças, máquina de lavar e secar roupa, casa com poucos móveis, sem ferro de passar roupa… Pois é, seria mesmo um sonho morar numa casa onde não há área de serviço! Como assim? E o tanque? E se numa hora tranquila eu quisesse dar um esfregadinha numas roupas? Não! Eu não tenho tanque em casa, consequentemente, não esfrego nada também!!! Mesmo se eu quisesse dar uma lavada nos panos de chão seria um pouco complicado… aqui eu nem consegui encontrar um rodo como os nossos. É limpeza a seco! Nada de água escorrendo, esfregando, repassando, deixar de molho… Não! Aqui tem: espuma na ponta da vassoura, produto que você passa e já está limpo, dentre outras facilidades domésticas.
Tudo para eu ficar tranquila, poder passar mais tempo com as crianças… mas como eu disse anteriormente, tenho um problema genético… Acabei arrumando manias só pra ficar estressada com as coisas da casa, como por exemplo: ter que sair correndo quando a máquina de secar roupa termina o ciclo, porque se a roupa esfria ela fica amassada e precisa passar com ferro. Já perdi o 51 (ônibus que faz o transporte perto de casa) por causa do ciclo da máquina… Pode? 
O trabalho em casa com as crianças é cruel, pensa comigo: você faz todos os dias a mesma coisas e várias vezes. Eu lavo a mesma frigideira umas quatro vezes por dia! E a gente passa tanto tempo juntos que já nos conhecemos pelo avesso do avesso. Posso saber só de olhar para eles o que querem, o que estão sentindo e até pensando! No começo foi um pouco complicado entender como seria essa nova vida e teve muito choro, manhas, escândalos, broncas, desespero… O tempo foi passando pra gente e nos ensinando como podíamos viver em harmonia e agora, até o chão parece ficar menos sujo!

Uma rotina em casa com os filhos e com os serviços domésticos não é nada fácil. E quando me pego pensando que poderia ser diferente, trabalhando e passando um tempo maior longe das crianças, me arrependo no minuto seguinte, porque também cresço como pessoa acompanhando de perto o desenvolvimento dessas criaturas que eu pus no mundo. Eles me ajudam a ter mais clareza dessa minha escolha de ser mãe e me mostram o que devo fazer para acertar mais. Estar junto “full time” com os filhos faz com que nos deparemos com nossos maiores defeitos e nossas mais belas virtudes. E você, teria coragem de encarar esse desafio?


11 de agosto de 2014

O transporte público em: "MÃE, OLHA O 51!"

Quando decidimos mudar de país, resolvemos também mudar de vida, o que implicava vender nosso carro e usar o transporte público de Boston. Nossas referências eram muito boas em relação ao meio de transporte daqui e estávamos tranquilos com nossa decisão. Tranquilos antes de chegar...
 
... porque quando pegamos o táxi, que nos trouxe do hotel até nossa casa, fui sentindo uma simples angústia que silenciava a minha certeza sobre a vida locomotiva em minha nova cidade. Andávamos, passávamos por ruas, árvores, casas, casas, casas... Meus Deus! Só casas? Só árvores? Onde é que eu vou com essas três crianças? Um supermercado? Um centrinho de compras? NADA! Pronto: o sonho da mudança ia por água abaixo e eu nem havia saído do táxi.
 
Nossa casa fica num bairro residencial , ou melhor, super residencial que não tem mais nada, só residências! Eu tinha a sensação que a cidade estava longe, perdida em algum canto por aí e eu havia ficado apenas naquele enorme pedaço repleto de casas, que por sinal são maravilhosas! Coisa de filme mesmo. Mas, como eu mesma disse, era uma sensação de quem estava chegando num lugar novo e que não tinha noção alguma do espaço.
 
Ficamos sabendo que havia um ônibus que ligava a região da nossa casa com o mundo! Ufa! Esse ônibus tem o número 51 (uma ótima ideia no Brasil!). Pronto, tudo resolvido: um ônibus que nos levará para onde quisermos: supermercado, centro da cidade, passeios, vida fora de casa! Mas nem tanto: o dito cujo do 51 tem hora marcada pra passar, demora de 20 minutos a uma hora nos finais de semana e... NÃO FUNCIONA DE DOMINGO! Como assim? Estamos ilhados, dizia meu marido! "Já me dá falta de ar só de saber que não temos como sair de casa aos domingos!".
Só que esse é apenas o começo da nossa história com o transporte... Depois veio a luta pra saber ao certo os horários, o nome do percurso, se é inbound ou outbound etc. E por algumas vezes o vimos passar pelos nossos olhos e... "Mãe, olha lá o 51", dizia o Lucas. Perdemos muitas vezes, esperamos no sol por quase uma hora... e o 51 foi virando um pesadelo na nossa nova vida. O Lucas, que não sabia contar até 5, agora já conhece o 51. A frase mais ouvida aqui em casa é "Corre, ou a gente perde o 51!".
Aos poucos fomos descobrindo os horários e outras opções de linhas para poder sair pra comprar as coisas da casa, que ainda estava pelada. Agora pensa: uma família com 3 crianças pequenas, um carrinho, uma porção absurda de coisas numa sacola e um ônibus? Ou melhor, tudo isso e um ônibus perdido no outro lado da rua. A família correndo com crianças, sacolas, carrinhos e o 51 lá, longe, indo embora pra não mais voltar. Isso mesmo! Era o último ônibus do dia e estávamos longe de casa, às dez horas da noite e eu com cistite. Nessa coisa toda, meu filho mais velho, compreendendo a situação de não poder mais voltar pra casa, entra em desespero e começa a chorar no meio da rua, entre sacolas e embrulhos: "Eu quero o 51! EU QUEROOO O 51!". Todos nós queríamos aquele ônibus maldito... Não era preciso entrar em pânico: existe táxi! Infelizmente as coisas não eram tão simples assim: uma dezena de táxis passavam por nós e não paravam, provavelmente porque não tiveram coragem de colocar tanta gente e tanta sacola nos seus carros. Era a gota d'água: ou eu ia embora pra fazer xixi ou faria na rua. Decidimos ir num restaurante indiano pra usar o banheiro e pedimos ajuda. Lá eles ligaram para um taxi e deram o restaurante como referência; as crianças estavam exaustas, o João chorava pelo 51, as compras, o carrinho... e nada de táxi. Mais meia hora de espera e aparece um carro dizendo que veio nos pegar. Um carro? Sem a placa de táxi? Um casal? Não sabia onde ficava o nossa casa? Meu Deus! Eu quero ir embora! Eles nos levaram mesmo assim e eu já estava em pânico com aquele casal que andava por estradas desconhecidas sem saber para onde estavam indo. De repente, um posto de gasolina conhecido. Ufa! Era a nossa casa!!!! Chegamos!

Andar de transporte público é uma lição de cidadania, dentre outras lições. A gente aprende a dar lugar, a dividir o espaço com o outro, a ser gentil, a conversar com estranhos (ou pelo menos a sorrir para eles). As crianças observam, ficam em silêncio, correspondem aos acenos e gentilezas, mesmo não entendo muito bem a língua. Observam o mapa, decoram os nomes das estações do metrô, as cores das linhas e as conexões que precisamos fazer. Estamos nos apropriando da nossa nova cidade estabelecendo uma relação afetiva com o transporte público! O trem até virou brincadeira de faz de conta!
 

E como pra tudo no mundo há um aplicativo, descobrimos que podemos acompanhar o percurso do 51 e, agora, ninguém mais fica na mão ou chora de desespero. Sabemos exatamente o momento que ele vai passar.

Com o tempo, aprendemos a nos localizar nos arredores da nossa casa: vamos à farmácia a pé, restaurantes, supermercado, café, sorveteria. Ou seja, aquela primeira sensação de "tudo longe" já não é mais a mesma. Aquela imensidão desconhecida e temida passou a ser algo mais familiar e próximo. O tempo faz com que as coisas mudem até de tamanho!!!


3 de agosto de 2014

Hora da mudança: aqui vamos nós!

Amanhece o dia em Nova Iorque... meus olhos se enchem de lágrimas ao ver do alto, aquela imagem linda de sol nascente entrelaçada pelas luzes da grande metrópole. Olho pro lado e vejo minhas três crianças comigo, mais meu marido. Que loucura! O que vai ser da gente aqui nos EUA? Uma mistura de alegria e medo vai tomando conta de mim. Pela caixa de som do avião, posso ouvir o comandante dizer "pouso autorizado". E lá vamos nós!

Mas antes de começar essa história é preciso falar de outra coisa: de sonho. SONHO no sentido de desejo, de querer muito algo que parece quase impossível. Depois, quando você encontra uma pessoa que tem o mesmo sonho que você, ele passa a ser PLANO. Em seguida já vira META e com o passar do tempo, dependendo da sua determinação, a sua meta se transforma em oportunidade. Para os corajosos o sonho, enfim, pode se tornar realidade.

Amanhece o dia em Nova Iorque e o frio na barriga da aterrissagem se mistura com a expectativa e a insegurança: o que vai ser de nós numa vida nova em outro país?!
Deixamos para trás nossa zona de conforto: as ruas conhecidas da nossa velha cidade, os amigos que fizemos com o tempo, a família sempre pronta a ajudar, o conforto da nossa casa, o carro que nos levava para todo e qualquer lugar, o trabalho, velhas conquistas, nossa língua materna e toda a nossa segurança cotidiana.
 
Ao chegar em outro país acionamos um campo desconhecido que vai nos guiando para que possamos nos adaptar às novas formas de viver. Descobrimos outros sentimentos, aflições, novas maneiras de ver o outro e o espaço à nossa volta. Um exercício intenso para nós adultos e também para as crianças!
 
Nosso destino: Boston. Sobre o resto dele não temos muitas notícias! Sabemos apenas que por aqui ficaremos um tempo e aqui viveremos um dia de cada vez. Temos a certeza de que, pelo menos, estamos juntos e que numa família-equipe como a nossa não tem como ficar na mão. A casa está sempre lotada por natureza, há tarefas mil a se fazer, a hora voa e o dia acaba antes mesmo da gente perceber.
 
As crianças descobriram a amizade incondicional porque ainda não há outras crianças com quem brincar; e assim passam o dia esbanjando carinhos, compartilhando saberes, armando brigas homéricas e deixando a mãe doidinha! A mãe? A mãe descobriu que ama ser professora porque quando o sinal bate a turma toda vai pra casa. Aqui não é bem assim: são 24 horas de pura emoção! O sinal bate e todos continuam comigo.
 
Só que eu também descobri em meus filhos coisas novas! Coisas estas que só podem ser desvendadas quando estamos em situações assim. Como só tenho eles para me comunicar durante o dia, acabo me surpreendendo com as conversas, os pensamentos e a forma como observam tudo ao redor. São tantas reflexões... "Mãe, agora você pode colocar a máquina pra falar em inglês e não em espanhol porque você já sabe o que ela pede"; "Mãe, diz o Lucas, preciso mandar uma mensagem"; "Didi" agora fala a Helena quando quer chamar o Lucas. "Mãe, você só fala "thank you" e dá risada... e se a pessoa estiver falando uma coisa ruim?", comenta o João preocupado quando saímos sozinhos pela rua.
 
E assim novos dias vão amanhecendo... quando a gente vê, já passou um mês!
 "Amanhecer é uma lição do universo que nos ensina que é preciso renascer. O novo amanhece!", já dizia a canção de Renato Teixeira.
 


Public Garden

22 de abril de 2014

O primeiro EU TE AMO

"O primeiro eu te amo" a gente nunca esquece, ainda mais quando é dito pelo seu filho do meio que está aprendendo a falar e a utilizar novas expressões para se comunicar. Foi assim que o Lucas declarou o seu primeiro amor...
Não, não foi para mim e nem para o pai e nem para os irmãos.
A história foi assim:
Se preparando para dormir, sem jantar, ele começa a pedir a mamadeira. "Pode mãe? Pode pai? Meu pai disse que sim!!!"
E daí vem vitorioso segurando a mamadeira e para na beira da cama quando eu digo bem séria:
"Filho, vamos ter que dar um jeito nessa mamadeira em breve." Segurando-a na mão, ele me olha com atenção.
"Você já vai fazer 3 anos, está ficando grande..."
Lucas me observa com um ar preocupado.
"É! Acho que ela fará uma viagem para o infinito e além logo logo".
Ele coloca a dita cuja no criado mudo. Olha pra mim e olha para a mamadeira e diz de forma dramática:
"Mas, mas, mas, mas eu AMO ela..."
Ãh? O que? Não ouvi muito bem? Como é que é?
E ele repetiu sem gaguejar: MAS EU AMO ELA, MÃE!
Não foi desse vez outra vez... O Lucas nunca disse que nos ama! No máximo diz que adora queijo, que gosta de potó... mas amar? Foi a primeira vez!
O primeiro "eu te amo" a gente nunca esquece, nem que seja para o MAMACAU - traduzindo "mama de nescau" do Lucas.