"Toca o despertador bem cedinho antes mesmo do sol aparecer e a maratona começa: se arrumar, preparar o café da manhã, acordar as crianças, separar as roupas, alimentar, fazer higiene, arrumar as mochilas e ir rumo à escola. Ufa, cada um na sua escola com a sua respectiva professora por pelo menos 4 horas no dia."
Era assim a nossa rotina no Brasil porque eu trabalhava!
Tive o privilégio de ficar meio período com meus filhos e assim, dividi com a escola, o dia a dia das crianças. Mas aqui, tudo é bem diferente!
O silêncio da casa nos faz acordar mais tarde e o sol já brilha intensamente na janela do quarto. Não tem despertador e nem aqueles ringtones que compunham a nossa antiga trilha sonora matinal. Sem pressa e tranquilidade, arrumo todas as infinitas três canecas de leite com achocolatado e os pães na chapa com manteiga. O cheiro é tão gostoso que acaba convidando alguns esquilos a espiar pela janela nossa refeição. Assim começa nosso dia!
Pra você pode parecer gostoso, um sonho de viver… mas todos os dias, esse mesmo trabalho exclusivamente materno e doméstico, não tem seus doces encantos. Queria colocar aqui todos os lados que contém essa moeda!
Algumas mães, numa fase inicial da maternidade, acabam escolhendo abrir mão do trabalho para poder cuidar de seus pequenos filhos. Essa ideia nunca passou pela minha cabeça! Só agora, com essa história de mudança de país, essa ideia não era bem uma escolha, mas sim, uma única condição.
Acho que um dos fatores que nunca me fez pensar nessa possibilidade de ser mãe profissionalmente, é o meu problema genético de ser bitolada com os serviços domésticos! Minha mãe é assim, minha vó é assim e, certamente, minha bisavó e tataravó também eram. Somos escravas da casa! Somos enlouquecidas por deixar tudo arrumado e limpo. Criamos planos de limpeza, estratégias para organização, rotina, horários… uma doideira sem fim!
E uma mãe com três crianças pequenas não tem uma vida muito saudável querendo sua casa limpa e organizada, concorda?
Mas as promessas americanas eram muito promissoras: cozinha com lavadora de louças, máquina de lavar e secar roupa, casa com poucos móveis, sem ferro de passar roupa… Pois é, seria mesmo um sonho morar numa casa onde não há área de serviço! Como assim? E o tanque? E se numa hora tranquila eu quisesse dar um esfregadinha numas roupas? Não! Eu não tenho tanque em casa, consequentemente, não esfrego nada também!!! Mesmo se eu quisesse dar uma lavada nos panos de chão seria um pouco complicado… aqui eu nem consegui encontrar um rodo como os nossos. É limpeza a seco! Nada de água escorrendo, esfregando, repassando, deixar de molho… Não! Aqui tem: espuma na ponta da vassoura, produto que você passa e já está limpo, dentre outras facilidades domésticas.
Tudo para eu ficar tranquila, poder passar mais tempo com as crianças… mas como eu disse anteriormente, tenho um problema genético… Acabei arrumando manias só pra ficar estressada com as coisas da casa, como por exemplo: ter que sair correndo quando a máquina de secar roupa termina o ciclo, porque se a roupa esfria ela fica amassada e precisa passar com ferro. Já perdi o 51 (ônibus que faz o transporte perto de casa) por causa do ciclo da máquina… Pode?
O trabalho em casa com as crianças é cruel, pensa comigo: você faz todos os dias a mesma coisas e várias vezes. Eu lavo a mesma frigideira umas quatro vezes por dia! E a gente passa tanto tempo juntos que já nos conhecemos pelo avesso do avesso. Posso saber só de olhar para eles o que querem, o que estão sentindo e até pensando! No começo foi um pouco complicado entender como seria essa nova vida e teve muito choro, manhas, escândalos, broncas, desespero… O tempo foi passando pra gente e nos ensinando como podíamos viver em harmonia e agora, até o chão parece ficar menos sujo!
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Uma rotina em casa com os filhos e com os serviços domésticos não é nada fácil. E quando me pego pensando que poderia ser diferente, trabalhando e passando um tempo maior longe das crianças, me arrependo no minuto seguinte, porque também cresço como pessoa acompanhando de perto o desenvolvimento dessas criaturas que eu pus no mundo. Eles me ajudam a ter mais clareza dessa minha escolha de ser mãe e me mostram o que devo fazer para acertar mais. Estar junto “full time” com os filhos faz com que nos deparemos com nossos maiores defeitos e nossas mais belas virtudes. E você, teria coragem de encarar esse desafio?